domingo, 27 de junho de 2010

O bem sucedido empresário das letras.

Em entrevista, Ivan fala a respeito dos livros digitais, das dificuldades que passou a
LePM e também do sucesso e consolidação da sua editora.


Ivan Pinheiro Machado é um dos proprietários da LePM. Fundou em 1974, a editora que hoje tem a maior linha de livros de bolso do Brasil. Formado em arquitetura, usa o aprendizado apenas em pinturas. Tomou como profissão a leitura. Paixão pelos livros alimentada desde muito cedo, deu a ele condições de se tornar um bem sucedido empresário da literatura.
O inicio não foi fácil para a LePM. Ivan afirma: “Depois que as coisas, passam elas ficam formalizadas”. E o que hoje por mais bem explicado e contextualizado pareceria simples aos olhos do leitor ou ouvinte, porem não foi nada fácil na época. Anos de ditadura ferrenha. O personagem Rango foi o começo de tudo. O livro de tirinhas com o prefácio de Luis Fernando Veríssimo, mesmo confundido com uma revista, passou pela malha fina da censura, por causa de um trecho do prefácio de Veríssimo que dizia: “Recomendo este livro com o maior entusiasmo”. Naquela época a publicação de revistas e jornais tinham de passar pelo crivo da censura. E mesmo com algumas críticas políticas o livro de Rango foi liberado. A censura foi um problema para a editora por mais dez anos.
Entre 1974 e 1990 foi um período de muitas dificuldades para a editora. Os juros em cima do crédito que a editora usava para se sustentar aumentaram muito com o inicio do plano real e uma crise financeira estabeleceu-se. “Qualquer lugar civilizado do mundo o livro de bolso era sem duvida nenhuma a ancora do movimento literário” disse Ivan. E essa foi a cartada final da LePM para se salvar da crise. A linha Pocket salvou a editora. Livros com uma qualidade diferenciada e trazendo títulos diversos para agradar todo tipo de leitor foi um sucesso e entrou no gosto do brasileiro.
Indagado se as editoras têm como função social reduzir os preços dos livros para que a cultura se torne mais acessível para o povo. Ivan tomou um posicionamento empresarial:
“A função social é de cada um como individuo e a grande função social é do estado”. Ter uma editora é ter como qualquer outro tipo de negócio, mas por vender algo que a maioria do povo brasileiro não tem acesso, que é a cultura. Forma-se assim então quase que uma obrigação cívica de baixar preços, mesmo que prejudicando a própria empresa. Se o povo brasileiro tivesse necessidade de cerveja. O preço reduziria como ação social das grandes empresas do ramo? Possivelmente não. Isso se trata acima de qualquer coisa de prioridade. Um livro de boa qualidade não custa muito, talvez deixando de comprar duas ou três latinhas de cerveja, possa se levar um livro para casa.
O futuro cheio de possibilidades a respeito do suporte dos próximos livros, não assusta Ivan. “Quem tem de se preocupar com o livro digital é as gráficas e os papeleiros”. Mesmo livre de qualquer dificuldade que a editora poderia vir a passar com o livro digital. Ivan sai em defesa do livro impresso. “A questão do livro digital por sua falta de importância é muito mais uma forçasão de barra das empresas de tecnologia”. Não é segredo pra ninguém que a preferência dos leitores é pelo livro de papel. Mas a questão é levantada com freqüência. Como se fosse realmente inevitável à extinção do papel impresso.
“Uma editora não pode depender de alguém que venha bater na porta” diz Ivan. Levando a crer que não existe apostas no mercado literário. Ivan define nesse momento o seu real trabalho dentro da editora. Diferente da indústria cinematográfica que tem por hábito apostar em roteiros de autores desconhecidos as editoras tem de pensar e criar projetos para se guiar e escolher as futuras publicações. E para isso tem de se ter um profundo conhecimento da literatura como um todo. E devido o sucesso da LePM, Ivan parece ter tal conhecimento de sobra. Ivan dá a entender também que para escrever um livro o escritor tem de estar devidamente habilitado.
Ivan é um verdadeiro apaixonado por livros. E fez dessa paixão sua profissão, superou as mais diversas dificuldades impostas em seu caminho, passou por anos difíceis de ditadura e reergueu a editora no momento mais difícil de sua historia. Hoje a LePM tem reconhecimento internacional. Está presente por praticamente todo o território brasileiro e é um orgulho para o Rio Grande do Sul.