- Como é teu nome, linda? - Indagava a desconhecida, para o garoto de cabelos compridos, que aproveitava um dos raros momentos de lazer ao lado de sua mãe. Era um passeio pelo zoológico ao seus nove anos de idade. Pergunta fatal, para um menino dessa idade. Tímido procurou pela mãe que poderia tirá-lo daquela situação, mas como em toda sua vida, ela estava longe demais para socorrê-lo. Até hoje James recorda desse fato
Nascido em Santana do Livramento, não conviveu muito tempo com o pai. Pois logo aos seis anos com os pais separados, morou em Montevideo. Sentia muita falta de sua mãe que o deixou com os tios, para procurar um emprego para sustenta-los. Ausência que de alguma maneira viria a moldar a pessoa que se tornaria mais tarde. " A carência afetiva, ela te dá duas oportunidades: ou tu te tornas um louco ou um cara que explode a rebeldia na cultura". disse James.
A pior época de sua vida foi em um internato, durante seis meses. A mãe o visitava em fins de semanas. Dormiam os três: mãe, irmão e ele no internato. Nessas noites e apenas nessas, o internato era sua casa. De vez em quando tinha alguns passeios como aquele no zoológico. A mãe vinha com seu namorado, que era apresentado como "amigo" tamanho era o ciúmes dos garotos, que não queriam dividir nem um minuto do pouco tempo que tinham com a mãe, com um estranho.
As coisas melhoraram quando se mudou para Porto Alegre. Morava com a mãe que trabalhava com toda sua força para poder pagar uma escola particular para seus filhos. Escola de padres e de ensino rigoroso. A repetência na quinta série foi inevitável.
Com quinze anos teve seu primeiro contato com o instrumento que o acompanha até hoje. Na casa de seu colega de escola, Alexandre, parceiro dos grenais de botão, descobriu a bateria. Ali também começava o namoro que deu mais certo em sua vida: o namoro com a música. Ouviu fascinado o “ tum pá tum pá” do instrumento. E percebeu que ele podia fazer música. Aquilo que ele ouvia no rádio e na vitrola podia ser reproduzido.
O namoro já podia ter começado, mas a primeira vez do casal ainda demorou um ano. O amigo era aspirante à guitarrista, e precisava de alguém para dar o tempo em suas músicas. E com toda paciência do mundo explicou, como James deveria tocar o instrumento. Não eram necessárias explicações. James havia nascido com esse talento, que ele só aprimorou nos anos seguintes.
Nesse mesmo ano, ele acabou indo para o colégio Piratini, e seu amigo Alexandre para o colégio Julio de Castilhos. A convivência reduzida os aproximou ainda mais, e ao som de AC DC, regados a vinho, a cigarro e outras coisinhas entraram no mundo do rock. Foi roadie da banda de trash metal Pesadelo em 83, e fez outra grande amizade com o guitarrista da banda Miguel Mainieri. James cedeu seu quarto como estúdio para os ensaios da banda. Em troca teria uma bateria a sua disposição, infelizmente sem o pedal do bumbo, que o baterista levava para casa. Mas mesmo assim, não tinha problema, James foi aumentando sua técnica, em algumas semanas ele já era o roadie que sabia tocar todas as musicas da banda. Fez três meses de aulas de bateria pagas pelo pai, dinheiro que era enviado pelo correio, o pai que nunca foi presente. Talvez não imagine ,mas ajudou James pelo menos um pouco em sua formação músical.
Miguel tinha uma situação financeira melhor, e trazia todas as novidades da “gringa”. Iron Maiden da Inglaterra, Metallica e outras bandas de metal. Tudo era consumido pelos jovens músicos. A Miguel Mainieri não faltaram elogios, sem dúvida um dos melhores amigos que James teve. “Minha vida foi uma até conhecer o Miguel, e outra depois de conhecê-lo” empolgado comenta sobre o amigo. O guitarrista que o ensinou a tocar bateria, hoje é professor de Física.
Quando acabou a escola com dezoito anos viajou em busca de aventura. Parou na casa de uma prima em Buenos Aires, onde ficou por um ano. Mas já com saudades do Bom Fim e com o marido da sua prima o expulsando de casa, James voltou para Porto Alegre. Voltou e montou a banda Plexus, banda de hard funk rock, durou três anos. Acabou por uma crise de egocentrismo do vocalista.
James viveu e participou de toda a revolução cultural dos anos oitenta. Venceu a timidez e até hoje é reconhecido por aqueles que freqüentavam o Bar do João e arredores. Hoje trabalha com venda de instrumentos musicais, dá aulas de bateria e toca na noite de Porto Alegre.Graças à Música James superou as dificuldades impostas na sua infância e adolescência, e acabou se tornando um grande homem.
terça-feira, 27 de abril de 2010
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